O Bispo
da Diocese de Juazeiro, Dom Beto Breis, recebeu na noite desta terça-feira (12)
na Casa Aprígio Duarte o título de cidadão juazeirense. Representantes de
entidades da sociedade civil, vereadores, militares, padres, religiosas e
membros de pastorais e movimentos da Igreja se fizeram presentes na solenidade
ocorrida no auditório da Câmara de Vereadores municipal. Em seu discurso,
Dom Beto agradeceu a homenagem ressaltando que ela é um reconhecimento ao
trabalho desenvolvido pela Diocese na região e pediu mais compromisso dos
legisladores com a população mais pobre e com as periferias.
Confira o
discurso de Dom Beto na íntegra a seguir:
DISCURSO DE DOM BETO
BREIS POR OCASIÃO DA RECEPÇÃO DO TÍTULO DE CIDADÃO JUAZEIRENSE
Casa Aprígio Duarte
Filho – Juazeiro (BA),
12 de dezembro de
2017
Exmo Sr.
Alecssandre Rodrigues Tanuri, vereador proponente e Presidente desta casa, na
pessoa de quem saúdo os demais vereadores e os demais membros desta mesa,
autoridades civis e militares aqui presentes,
Amados diocesanos
(sacerdotes, religios@s e fiéis cristãos leigos),
Inicialmente
gostaria de agradecer esta homenagem que é, em primeiro lugar, à Igreja que
está em Juazeiro. Digo isto porque não me vejo com tantos méritos e nem gabaritado
pelo tempo para receber este título que, sem dúvida, é um privilégio: estou
aqui há apenas um ano e sete meses. Recebo esta honraria como Pastor de uma
Diocese viva e atuante nesta já amada cidade de Juazeiro. “Onde está o Bispo,
aí está a Igreja” já afirmava Santo Inácio de Antioquia no segundo século. A
Diocese de Juazeiro – com todo o Povo de Deus (pastores, religiosas e fiéis
cristãos leigos) é quem merece o reconhecimento por sua história de uma Igreja
samaritana, atenta às dores, às angústias e às esperanças dos homens e mulheres
destas margens sertanejas baianas do Velho Chico. No próximo sábado, por sinal,
re-cordaremos o centenário do nascimento do nosso primeiro bispo, Dom Thomas
Murphy, que desde o início do seu ministério episcopal promoveu a educação (com
escolas em pontos estratégicos da periferia de então) e diversas obras e
atividades sociais (junto a lavadeiras e a prostitutas, por exemplo). Naquele
período fecundo e impulsionador do Concílio Vaticano II, Dom Tomás lançava as
bases de uma Igreja que privilegia os pobres e vê no compromisso social não um
apêndice, mas uma dimensão imprescindível da ação pastoral e evangelizadora.
Sou consciente, por
outro lado, que o título de Cidadão Honorário equipara a pessoa homenageada a
uma adoção oficial. A pessoa agraciada passa a ser um irmão, um conterrâneo,
uma pessoa da terra, apesar de não ter nascido no local. Fico, portanto,
imensamente feliz e honrado com essa distinção concedida. Nasci nas margens de
uma baía no litoral de Santa Catarina que foi erroneamente identificada por
viajantes espanhóis como um rio, o Rio São Francisco...do Sul (porque visitado
pelos navegantes no dia do Santo de Assis). Das margens do “rio” São Francisco
do Sul vim para estas margens sertanejas baianas do Velho Chico, onde já me
sinto em casa, no aconchego e cordialidade de um povo alegre e acolhedor.
E agora, como
cidadão juazeirense e bispo de uma Igreja cidadã e defensora da cidadania de
todos, quero parabenizar os senhores e senhoras desta Casa do Povo por terem
aprovado na íntegra nesta tarde o Plano Municipal de Saneamento Básico de
Juzaeiro. A revitalização dos córregos e riachos que correm e percorrem nossa
cidade é urgente, para o bem da Casa Comum (irmã água, irmãs plantas....) e
para o cuidado das populações. Uma reivindicação justa do MPC (Movimento
Popular da cidadania), que se faz porta-voz do anseio – consciente e
inconsciente - da população.
Atrevo-me, ainda, a
pedir aos homens públicos aqui presentes que não se esqueçam dos mais pobres,
dos vulneráveis e sedentos de justiça e de direitos respeitados. Para nós
crentes das mais diversas denominações cristãs a opção pelos pobres é de matriz
teológica, não primeiramente sociológica. Daqui a poucos dias, no Natal, iremos
celebrar o mistério encantador e desconcertante do Filho de Deus que “sendo
rico, se fez pobre para enriquecer-nos”[1], como lembra o
Apóstolo. Fez-se pobre e frágil no sublime mistério da Encarnação e proclamou
bem aventurados os pobres, de quem é o Reino dos céus[2]. Os empobrecidos
tantas vezes desprezados pelos que detém o poder são vítimas de uma sociedade
regida por mecanismos materialistas que, como afirmava peremptoriamente São
João Paulo II, “produzem, em nível internacional, ricos cada vez mais ricos à
custa de pobres cada vez mais pobres” [3]
Como homens
públicos, re-presentantes do povo, lutem para que dívidas sociais sejam
ressarcidas. Visitem os pobres, ouçam seus clamores, vejam seus sofrimentos,
exerçam seus mandatos a partir das periferias (pois aí está o centro do
Evangelho e o começo de uma ordem social equitativa e promotora de Paz). Neste
sentido, tornam-se oportunas as palavras do Papa Francisco:
“Peço a Deus que
cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise
efetivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso
mundo. A política, tão manchada, é uma sublime vocação, é uma das formas mais
preciosas da caridade, porque busca o bem comum”[4]
Finalizando,
agradeço a todos pelo título que para sempre muito me orgulha e
orgulhará. Obrigado aos Sr vereador Alecssandre Tanuri por propor essa
distinção e pelos demais vereadores pela aprovação da mesma. Minha terna,
fraterna e paternal gratidão a todos de nossa Diocese de Juazeiro pela alegria
do dom e desafio da sinodalidade (do caminhar juntos) no Seguimento de Jesus e
no serviço ao Reino que ele anunciou e inaugurou entre nós.
Que a ponte que une
Juazeiro e Petrolina, Bahia e Pernambuco, seja sinal da efetivação do que deve
ser minha presença pastoral neste e nos demais municípios de nossa vasta
Diocese: fazedor de pontes, sinal e promotor de unidade e comunhão. Posso, com
convicção, dizer-lhes hoje que desde a nomeação para bispo de Juazeiro meu
coração sentiu-se vinculado a esta cidade. Por ocasião da minha ordenação
episcopal afirmava que “em breve período de tempo já poderia atrever-me a
adaptar a bela e renomada canção de Jorge de Altinho:
“Petrolina, Juazeiro.
Juazeiro, Petrolina.
Todas as duas
estimo o tempo inteiro.
Eu gosto de
Petrolina, mas ADORO Juazeiro”
Muito obrigado!
Dom Beto Breis
Bispo da Diocese de
Juazeiro/BA
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