15 de fev. de 2018

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A QUARESMA 2018





Porque se multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos”. Este trecho do Evangelho de Mateus é o tema da mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2018, divulgada pelo Vaticano.

O Papa Francisco explica no texto que esta passagem refere-se ao discurso de Jesus sobre o fim dos tempos, anunciando a tribulação que poderia afetar a comunidade dos crentes. “À vista de fenômenos espaventosos, alguns falsos profetas enganarão a muitos, a ponto de ameaçar apagar-se, nos corações, o amor que é o centro de todo o Evangelho”.

Confira na íntegra:


Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2018
Terça-feira, 6 de fevereiro de 2018
Boletim da Santa Sé
«Porque se multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos» (Mt 24, 12)
Amados irmãos e irmãs!
Mais uma vez vamos encontrar-nos com a Páscoa do Senhor! Todos os anos, com a finalidade de nos preparar para ela, Deus na sua providência oferece-nos a Quaresma, «sinal sacramental da nossa conversão»,[1] que anuncia e torna possível voltar ao Senhor de todo o coração e com toda a nossa vida.
Com a presente mensagem desejo, este ano também, ajudar toda a Igreja a viver, neste tempo de graça, com alegria e verdade; faço-o deixando-me inspirar pela seguinte afirmação de Jesus, que aparece no evangelho de Mateus: «Porque se multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos» (24, 12).
Esta frase situa-se no discurso que trata do fim dos tempos, pronunciado em Jerusalém, no Monte das Oliveiras, precisamente onde terá início a paixão do Senhor. Dando resposta a uma pergunta dos discípulos, Jesus anuncia uma grande tribulação e descreve a situação em que poderia encontrar-se a comunidade dos crentes: à vista de fenômenos espaventosos, alguns falsos profetas enganarão a muitos, a ponto de ameaçar apagar-se, nos corações, o amor que é o centro de todo o Evangelho.
Os falsos profetas
Escutemos este trecho, interrogando-nos sobre as formas que assumem os falsos profetas?
Uns assemelham-se a «encantadores de serpentes», ou seja, aproveitam-se das emoções humanas para escravizar as pessoas e levá-las para onde eles querem. Quantos filhos de Deus acabam encandeados pelas adulações dum prazer de poucos instantes que se confunde com a felicidade! Quantos homens e mulheres vivem fascinados pela ilusão do dinheiro, quando este, na realidade, os torna escravos do lucro ou de interesses mesquinhos! Quantos vivem pensando que se bastam a si mesmos e caem vítimas da solidão!
Outros falsos profetas são aqueles «charlatães» que oferecem soluções simples e imediatas para todas as aflições, mas são remédios que se mostram completamente ineficazes: a quantos jovens se oferece o falso remédio da droga, de relações passageiras, de lucros fáceis mas desonestos! Quantos acabam enredados numa vida completamente virtual, onde as relações parecem mais simples e ágeis, mas depois revelam-se dramaticamente sem sentido! Estes impostores, ao mesmo tempo que oferecem coisas sem valor, tiram aquilo que é mais precioso como a dignidade, a liberdade e a capacidade de amar. É o engano da vaidade, que nos leva a fazer a figura de pavões para, depois, nos precipitar no ridículo; e, do ridículo, não se volta atrás. Não nos admiremos! Desde sempre o demónio, que é «mentiroso e pai da mentira» (Jo 8, 44), apresenta o mal como bem e o falso como verdadeiro, para confundir o coração do homem. Por isso, cada um de nós é chamado a discernir, no seu coração, e verificar se está ameaçado pelas mentiras destes falsos profetas. É preciso aprender a não se deter no nível imediato, superficial, mas reconhecer o que deixa dentro de nós um rasto bom e mais duradouro, porque vem de Deus e visa verdadeiramente o nosso bem.
Um coração frio
Na Divina Comédia, ao descrever o Inferno, Dante Alighieri imagina o diabo sentado num trono de gelo;[2] habita no gelo do amor sufocado. Interroguemo-nos então: Como se resfria o amor em nós? Quais são os sinais indicadores de que o amor corre o risco de se apagar em nós?
O que apaga o amor é, antes de mais nada, a ganância do dinheiro, «raiz de todos os males» (1 Tm 6, 10); depois dela, vem a recusa de Deus e, consequentemente, de encontrar consolação n’Ele, preferindo a nossa desolação ao conforto da sua Palavra e dos Sacramentos.[3] Tudo isto se permuta em violência que se abate sobre quantos são considerados uma ameaça para as nossas «certezas»: o bebé nascituro, o idoso doente, o hóspede de passagem, o estrangeiro, mas também o próximo que não corresponde às nossas expetativas.
A própria criação é testemunha silenciosa deste resfriamento do amor: a terra está envenenada por resíduos lançados por negligência e por interesses; os mares, também eles poluídos, devem infelizmente guardar os despojos de tantos náufragos das migrações forçadas; os céus – que, nos desígnios de Deus, cantam a sua glória – são sulcados por máquinas que fazem chover instrumentos de morte.
E o amor resfria-se também nas nossas comunidades: na Exortação apostólica Evangelii gaudium procurei descrever os sinais mais evidentes desta falta de amor. São eles a acédia egoísta, o pessimismo estéril, a tentação de se isolar empenhando-se em contínuas guerras fratricidas, a mentalidade mundana que induz a ocupar-se apenas do que dá nas vistas, reduzindo assim o ardor missionário.[4]
Que fazer?
Se porventura detetamos, no nosso íntimo e ao nosso redor, os sinais acabados de descrever, saibamos que, a par do remédio por vezes amargo da verdade, a Igreja, nossa mãe e mestra, nos oferece, neste tempo de Quaresma, o remédio doce da oração, da esmola e do jejum.
Dedicando mais tempo à oração, possibilitamos ao nosso coração descobrir as mentiras secretas, com que nos enganamos a nós mesmos,[5] para procurar finalmente a consolação em Deus. Ele é nosso Pai e quer para nós a vida.
A prática da esmola liberta-nos da ganância e ajuda-nos a descobrir que o outro é nosso irmão: aquilo que possuo, nunca é só meu. Como gostaria que a esmola se tornasse um verdadeiro estilo de vida para todos! Como gostaria que, como cristãos, seguíssemos o exemplo dos Apóstolos e víssemos, na possibilidade de partilhar com os outros os nossos bens, um testemunho concreto da comunhão que vivemos na Igreja. A este propósito, faço minhas as palavras exortativas de São Paulo aos Coríntios, quando os convidava a tomar parte na coleta para a comunidade de Jerusalém: «Isto é o que vos convém» (2 Cor 8, 10). Isto vale de modo especial na Quaresma, durante a qual muitos organismos recolhem coletas a favor das Igrejas e populações em dificuldade. Mas como gostaria também que no nosso relacionamento diário, perante cada irmão que nos pede ajuda, pensássemos: aqui está um apelo da Providência divina. Cada esmola é uma ocasião de tomar parte na Providência de Deus para com os seus filhos; e, se hoje Ele Se serve de mim para ajudar um irmão, como deixará amanhã de prover também às minhas necessidades, Ele que nunca Se deixa vencer em generosidade?[6]
Por fim, o jejum tira força à nossa violência, desarma-nos, constituindo uma importante ocasião de crescimento. Por um lado, permite-nos experimentar o que sentem quantos não possuem sequer o mínimo necessário, provando dia a dia as mordeduras da fome. Por outro, expressa a condição do nosso espírito, faminto de bondade e sedento da vida de Deus. O jejum desperta-nos, torna-nos mais atentos a Deus e ao próximo, reanima a vontade de obedecer a Deus, o único que sacia a nossa fome.
Gostaria que a minha voz ultrapassasse as fronteiras da Igreja Católica, alcançando a todos vós, homens e mulheres de boa vontade, abertos à escuta de Deus. Se vos aflige, como a nós, a difusão da iniquidade no mundo, se vos preocupa o gelo que paralisa os corações e a ação, se vedes esmorecer o sentido da humanidade comum, uni-vos a nós para invocar juntos a Deus, jejuar juntos e, juntamente connosco, dar o que puderdes para ajudar os irmãos!
O fogo da Páscoa
Convido, sobretudo os membros da Igreja, a empreender com ardor o caminho da Quaresma, apoiados na esmola, no jejum e na oração. Se por vezes parece apagar-se em muitos corações o amor, este não se apaga no coração de Deus! Ele sempre nos dá novas ocasiões, para podermos recomeçar a amar.
Ocasião propícia será, também este ano, a iniciativa «24 horas para o Senhor», que convida a celebrar o sacramento da Reconciliação num contexto de adoração eucarística. Em 2018, aquela terá lugar nos dias 9 e 10 de março – uma sexta-feira e um sábado –, inspirando -se nestas palavras do Salmo 130: «Em Ti, encontramos o perdão» (v. 4). Em cada diocese, pelo menos uma igreja ficará aberta durante 24 horas consecutivas, oferecendo a possibilidade de adoração e da confissão sacramental.
Na noite de Páscoa, reviveremos o sugestivo rito de acender o círio pascal: a luz, tirada do «lume novo», pouco a pouco expulsará a escuridão e iluminará a assembleia litúrgica. «A luz de Cristo, gloriosamente ressuscitado, nos dissipe as trevas do coração e do espírito»,[7] para que todos possamos reviver a experiência dos discípulos de Emaús: ouvir a palavra do Senhor e alimentar-nos do Pão Eucarístico permitirá que o nosso coração volte a inflamar-se de fé, esperança e amor.
Abençoo-vos de coração e rezo por vós. Não vos esqueçais de rezar por mim.
Vaticano, 1 de Novembro de 2017
Solenidade de Todos os Santos

FRANCISCO
_________________________
[1] Missal Romano, I Domingo da Quaresma, Oração Coleta.
[2] «Imperador do reino em dor tamanho / saía a meio peito ao gelo baço» (Inferno XXXIV, 28-29).
[3] «É curioso, mas muitas vezes temos medo da consolação, medo de ser consolados. Aliás, sentimo-nos mais seguros na tristeza e na desolação. Sabeis porquê? Porque, na tristeza, quase nos sentimos protagonistas; enquanto, na consolação, o protagonista é o Espírito Santo» (Angelus, 7/XII/2014).
[4] Nn. 76-109.
[5] Cf. Bento XVI, Carta enc. Spe salvi, 33.
[6] Cf. Pio XII, Carta enc. Fidei donum, III.
[7] Missal Romano, Vigília Pascal, Lucernário.
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14 de fev. de 2018

PAPA FRANCISCO ENVIA MENSAGEM POR OCASIÃO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2018




“Fraternidade e superação da violência” é o tema da Campanha para a Quaresma, em 2018. O Evangelho de Mateus inspira o lema: “ Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).

Todos os anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apresenta a Campanha da Fraternidade como caminho de conversão quaresmal. Um caminho pessoal, comunitário e social que visibilize a salvação paterna de Deus. “Fraternidade e superação da violência” é o tema da Campanha para a Quaresma, em 2018. O Evangelho de Mateus inspira o lema: “ Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).

A Campanha será lançada oficialmente nesta Quarta-feira de Cinzas e tem como objetivo geral: “Construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”.

De acordo com o Secretário-Geral da CNBB, Dom Leonardo Ulrichs Steiner, sofremos e estamos quase estarrecidos com a violência. Não apenas com as mortes que aumentam, mas também por ela perpassar quase todos os âmbitos da nossa sociedade. A ética que norteava as relações sociais está esquecida. Hoje, temos corrupção, morte e agressividade nos gestos e nas palavras. Assim, quase aumenta a crença em nossa incapacidade de vivermos como irmãos.

Por ocasião do lançamento da Campanha da Fraternidade 2018 o Papa Francisco enviou uma mensagem ao Presidente da CNBB, o arcebispo de Brasília, Cardeal Dom Sérgio da Rocha.

Clique para ouvir
Eis na íntegra a mensagem do Papa:

Mensagem do Papa Francisco por ocasião da Campanha da Fraternidade 2018
Sábado, 27 de janeiro de 2018


Queridos irmãos e irmãs do Brasil!

Neste tempo quaresmal, de bom grado me uno à Igreja no Brasil para celebrar a Campanha “Fraternidade e a superação da violência”, cujo objetivo é construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência. Desse modo, a Campanha da Fraternidade de 2018 nos convida a reconhecer a violência em tantos âmbitos e manifestações e, com confiança, fé e esperança, superá-la pelo caminho do amor visibilizado em Jesus Crucificado.

Jesus veio para nos dar a vida plena (cf. Jo 10, 10). Na medida em que Ele está no meio de nós, a vida se converte num espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos (cf. Exort. Apost. Evangelii gaudium, 180). Este tempo penitencial, onde somos chamados a viver a prática do jejum, da oração e da esmola nos faz perceber que somos irmãos. Deixemos que o amor de Deus se torne visível entre nós, nas nossas famílias, nas comunidades, na sociedade.

“É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (1 Co 6,2; cf. Is 49,8), que nos traz a graça do perdão recebido e oferecido. O perdão das ofensas é a expressão mais eloquente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir. Às vezes, como é difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração, a paz. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança é condição necessária para se viver como irmãos e irmãs e superar a violência. Acolhamos, pois, a exortação do Apóstolo: “Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento” (Ef 4, 26).

Sejamos protagonistas da superação da violência fazendo-nos arautos e construtores da paz. Uma paz que é fruto do desenvolvimento integral de todos, uma paz que nasce de uma nova relação também com todas as criaturas. A paz é tecida no dia-a-dia com paciência e misericórdia, no seio da família, na dinâmica da comunidade, nas relações de trabalho, na relação com a natureza. São pequenos gestos de respeito, de escuta, de diálogo, de silêncio, de afeto, de acolhida, de integração, que criam espaços onde se respira a fraternidade: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), como destaca o lema da Campanha da Fraternidade deste ano. Em Cristo somos da mesma família, nascidos do sangue da cruz, nossa salvação. As comunidades da Igreja no Brasil anunciem a conversão, o dia da salvação para conviverem sem violência.

Peço a Deus que a Campanha da Fraternidade deste ano anime a todos para encontrar caminhos de superação da violência, convivendo mais como irmãos e irmãs em Cristo. Invoco a proteção de Nossa Senhora da Conceição Aparecida sobre o povo brasileiro, concedendo a Bênção Apostólica. Peço que todos rezem por mim.

Vaticano, 27 de janeiro de 2018.

[Franciscus PP.]
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9 de fev. de 2018

DIOCESE DE JUAZEIRO (BA) REALIZA LANÇAMENTO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2018 NA PRÓXIMA QUARTA (14)

A Diocese de Juazeiro (BA) realizará o lançamento da Campanha da Fraternidade 2018 na próxima quarta-feira, (14), numa coletiva de imprensa marcada para às 9h, no Salão Papa Francisco, localizado na Casa Paroquial, na Catedral-Santuário Nossa Senhora das Grotas, com a presença do bispo diocesano Dom Beto Breis, do Padre Josemar Mota, vigário geral da Diocese, representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Pastoral da Mulher.

Tendo como tema “Fraternidade e superação da violência”, e como lema “Vós sois todos irmãos (Mt 23,8)”, a campanha desse ano propõe a discussão e reflexão sobre a violência que, de modo avassalador, está presente em vários segmentos da sociedade.


Na mesma data, fiéis católicos celebram a “Quarta-feira de Cinzas", que dá início ao período da Quaresma. E, como de costume, acontecem celebrações especiais nas paróquias e comunidades. Na Catedral-Santuário Nossa Senhora das Grotas, a missa será às 19h30min.
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3 de jan. de 2018

PAPA FRANCISCO NOMEIA O OITAVO BISPO DA DIOCESE DE PETROLINA (PE) – DOM FRANCISCO CANINDÉ PALHANO.




O papa Francisco nomeou nesta quarta-feira, 03 de janeiro, dom Francisco Canindé Palhano como novo bispo da diocese de Petrolina (PE). Dom Palhano foi transferido da diocese de Bonfim (BA), onde atuou desde novembro de 2006.

Natural de São José de Mipibu (RN), dom Francisco nasceu no dia 1º de fevereiro de 1949. Tem Mestrado em Teologia Moral, na Academia Alfonsiana da Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma.

Antes do episcopado teve atuação na Pastoral Familiar e no Encontro de Casais com Cristo (ECC), coordenando e dirigindo grupos na arquidiocese de Natal (RN) e em âmbito regional, além de fazer parte do Conselho Nacional do ECC. Também foi professor e reitor no Seminário arquidiocesano e capelão do Hospital do Coração.

Dom Francisco Canindé Palhano tem como lema episcopal “Oportet illum regnare (1Cor 15,25)” – (Ele deve reinar).

A diocese de Petrolina estava vacante desde o dia 12 de julho de 2017, quando o papa aceitou a renúncia de dom Manoel dos Reis de Farias, por motivo de idade. A distância entre as duas sedes episcopais é de apenas 130 quilômetros pela rodovia BR 407.

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23 de dez. de 2017

DOM BETO BREIS DARÁ CATEQUESE SOBRE MISTÉRIO DO NATAL NESTE SÁBADO (23) EM JUAZEIRO.


            Papai Noel, compras, presentes, ceia natalina... Afinal, será isso a essência do Natal? O que faz deste tempo tão especial a ponto de as casas serem enfeitadas, as músicas ganharem novo tom, a afabilidade entre as pessoas tornar-se mais presente? Qual é o mistério que está por trás do natal e que corre o risco de se perder quando colocamos em primeiro lugar coisas que não são o seu verdadeiro sentido? É para tratar desse assunto - e sobretudo da beleza escondida do "mistério do Natal" - que Dom Beto Breis, bispo de Juazeiro, fará neste sábado uma Catequese especial na Catedral-Santuário N. Sra. das Grotas. Venha (re)descobrir a verdadeira beleza do acontecimento que dividiu a história da humanidade!

Catequese "O mistério do Natal"
Na Catedral-Santuário N. Sra. das Grotas
Neste sábado, dia 23, às 17h
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NATAL: FESTA DA HUMILDADE DE DEUS, FESTA DA HUMANIDADE.


Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.
Natal é a festa da Humanidade. É Celebração carregada de otimismo antropológico: se o próprio Deus assume nossa condição, quanto valor não haverá cada pessoa humana, imagem de Deus formada na Criação e re-formada na Encarnação do Verbo? Todavia, é sempre o pecado, com suas multíplas expressões pessoais e sociais, que de-forma essa imagem, que lhe nega e avilta. Daí tantos rostos de-formados pela abissal, persistente e escandalosa desigualdade num país de “tradição cristã”. No âmbito mundial, guerras estúpidas (existe guerra sensata?) reforçam ódios, pré-conceitos, barreiras e geram dor e morte num jogo de retaliações e vingança nada próprias de uma “Civilização” que se diz cristã.
O poema que abre este artigo, do grande poeta pernambucano Manuel Bandeira (+1968), convida a olhar corpos de-formados, dignidades feridas de quem vive de sobras, de restos das mesas dos epulões. De fato não aprendemos a lição do Natal. Ousamos romantizar o nascimento do Deus-humanado em uma estrebaria (foi o que sobrou, pois “não havia lugar para eles na hospedaria”, como afirma o Evangelista) e a substituí-lo por um velhinho lendário e bem adequado aos gostos consumistas e neoliberais. Não é também pequena a tentação de substituirmos o cerne da mensagem natalina, evangélico, por mensagens piegas, nada in-cômodas e desafiadoras, carregadas de sentimentalismo estéril, efêmero e intimista. Estamos distantes de Francisco de Assis, que ao se encantar com o mistério da humildade de Deus des-velada no Natal, “cria” o presépio para vislumbrar a concretude da sua pobreza: “Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e ver com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro” (1 Celano 84).


O Natal anuncia que o Filho dileto do Pai despoja-se de sua divindade para re-vestir de dignidade nossa humana condição. O Verbo se faz corpo re-velando a sacralidade inviolável de cada corpo humano. Celebrar dignamente o Natal implica, portanto, em reconhecer que o humano é caminho inexorável para se chegar ao divino. Não se pode acolher o Cristo que vem ao nosso encontro sem deixar-se encontrar e interpelar pelo outro, particularmente os feridos e negados em sua dignidade, tratados como bichos. Apoiar (concretamente) movimentos, grupos, entidades e associações que estão a serviço da afirmação e do resgate da dignidade humana é possível gesto concreto de quem aprende que celebrar o nascimento dAquele que se faz nosso irmão é irmanar-se, romper velhas crostas de egoísmo e indiferença. Na festa do Deus in-visível que se faz visível em nossa carne, abramos os olhos para re-conhecer os in-visíveis de nossa sociedade!

 Neste período privilegiado, sonhemos com um tempo novo, no qual a nenhum ser humano seja imposta condição des-humana. Esse é o sonho de Deus! Empenhemo-nos, com nossa responsabilidade e compromisso, ensaiando um tempo novo daquela Paz anunciada pelos anjos aos humildes pastores. Paz que é fruto da Justiça!
Que o Natal nos in-comode e des-instale como homens e mulheres encantados pelo Deus que na sua ternura amorosa dá-se por inteiro a nós (quem ama não dá sobras, nem restos). Caso contrário “haverá luzes, festas, árvores iluminadas, presépios, (…) mas é tudo falso”, como bem lamentou o Papa Francisco recentemente.

Dom Beto Breis, ofm
Diocese de Juazeiro – Bahia
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13 de dez. de 2017

DOM BETO BREIS RECEBE O TÍTULO DE CIDADÃO JUAZEIRENSE E PEDE ATENÇÃO PARA POBRES E PERIFERIAS

O Bispo da Diocese de Juazeiro, Dom Beto Breis, recebeu na noite desta terça-feira (12) na Casa Aprígio Duarte o título de cidadão juazeirense. Representantes de entidades da sociedade civil, vereadores, militares, padres, religiosas e membros de pastorais e movimentos da Igreja se fizeram presentes na solenidade ocorrida no auditório da Câmara de Vereadores municipal. Em seu discurso, Dom Beto agradeceu a homenagem ressaltando que ela é um reconhecimento ao trabalho desenvolvido pela Diocese na região e pediu mais compromisso dos legisladores com a população mais pobre e com as periferias.



Confira o discurso de Dom Beto na íntegra a seguir:

DISCURSO DE DOM BETO BREIS POR OCASIÃO DA RECEPÇÃO DO TÍTULO DE CIDADÃO JUAZEIRENSE

Casa Aprígio Duarte Filho – Juazeiro (BA),
12 de dezembro de 2017

Exmo Sr. Alecssandre Rodrigues Tanuri, vereador proponente e Presidente desta casa, na pessoa de quem saúdo os demais vereadores e os demais membros desta mesa, autoridades civis e militares aqui presentes,
Amados diocesanos (sacerdotes, religios@s e fiéis cristãos leigos),


Inicialmente gostaria de agradecer esta homenagem que é, em primeiro lugar, à Igreja que está em Juazeiro. Digo isto porque não me vejo com tantos méritos e nem gabaritado pelo tempo para receber este título que, sem dúvida, é um privilégio: estou aqui há apenas um ano e sete meses. Recebo esta honraria como Pastor de uma Diocese viva e atuante nesta já amada cidade de Juazeiro. “Onde está o Bispo, aí está a Igreja” já afirmava Santo Inácio de Antioquia no segundo século. A Diocese de Juazeiro – com todo o Povo de Deus (pastores, religiosas e fiéis cristãos leigos) é quem merece o reconhecimento por sua história de uma Igreja samaritana, atenta às dores, às angústias e às esperanças dos homens e mulheres destas margens sertanejas baianas do Velho Chico. No próximo sábado, por sinal, re-cordaremos o centenário do nascimento do nosso primeiro bispo, Dom Thomas Murphy, que desde o início do seu ministério episcopal promoveu a educação (com escolas em pontos estratégicos da periferia de então) e diversas obras e atividades sociais (junto a lavadeiras e a prostitutas, por exemplo). Naquele período fecundo e impulsionador do Concílio Vaticano II, Dom Tomás lançava as bases de uma Igreja que privilegia os pobres e vê no compromisso social não um apêndice, mas uma dimensão imprescindível da ação pastoral e evangelizadora.


Sou consciente, por outro lado, que o título de Cidadão Honorário equipara a pessoa homenageada a uma adoção oficial. A pessoa agraciada passa a ser um irmão, um conterrâneo, uma pessoa da terra, apesar de não ter nascido no local. Fico, portanto, imensamente feliz e honrado com essa distinção concedida. Nasci nas margens de uma baía no litoral de Santa Catarina que foi erroneamente identificada por viajantes espanhóis como um rio, o Rio São Francisco...do Sul (porque visitado pelos navegantes no dia do Santo de Assis). Das margens do “rio” São Francisco do Sul vim para estas margens sertanejas baianas do Velho Chico, onde já me sinto em casa, no aconchego e cordialidade de um povo alegre e acolhedor.
E agora, como cidadão juazeirense e bispo de uma Igreja cidadã e defensora da cidadania de todos, quero parabenizar os senhores e senhoras desta Casa do Povo por terem aprovado na íntegra nesta tarde o Plano Municipal de Saneamento Básico de Juzaeiro. A revitalização dos córregos e riachos que correm e percorrem nossa cidade é urgente, para o bem da Casa Comum (irmã água, irmãs plantas....) e para o cuidado das populações.  Uma reivindicação justa do MPC (Movimento Popular da cidadania), que se faz porta-voz do anseio – consciente e inconsciente - da população.

Atrevo-me, ainda, a pedir aos homens públicos aqui presentes que não se esqueçam dos mais pobres, dos vulneráveis e sedentos de justiça e de direitos respeitados. Para nós crentes das mais diversas denominações cristãs a opção pelos pobres é de matriz teológica, não primeiramente sociológica. Daqui a poucos dias, no Natal, iremos celebrar o mistério encantador e desconcertante do Filho de Deus que “sendo rico, se fez pobre para enriquecer-nos”[1], como lembra o Apóstolo. Fez-se pobre e frágil no sublime mistério da Encarnação e proclamou bem aventurados os pobres, de quem é o Reino dos céus[2]. Os empobrecidos tantas vezes desprezados pelos que detém o poder são vítimas de uma sociedade regida por mecanismos materialistas que, como afirmava peremptoriamente São João Paulo II, “produzem, em nível internacional, ricos cada vez mais ricos à custa de pobres cada vez mais pobres” [3]
Como homens públicos, re-presentantes do povo, lutem para que dívidas sociais sejam ressarcidas. Visitem os pobres, ouçam seus clamores, vejam seus sofrimentos, exerçam seus mandatos a partir das periferias (pois aí está o centro do Evangelho e o começo de uma ordem social equitativa e promotora de Paz). Neste sentido, tornam-se oportunas as palavras do Papa Francisco:
“Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão manchada, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum”[4]
Finalizando, agradeço a todos pelo título que para sempre muito me orgulha e orgulhará.  Obrigado aos Sr vereador Alecssandre Tanuri por propor essa distinção e pelos demais vereadores  pela aprovação da mesma. Minha terna, fraterna e paternal gratidão a todos de nossa Diocese de Juazeiro pela alegria do dom e desafio da sinodalidade (do caminhar juntos) no Seguimento de Jesus e no serviço ao Reino que ele anunciou e inaugurou entre nós.
Que a ponte que une Juazeiro e Petrolina, Bahia e Pernambuco, seja sinal da efetivação do que deve ser minha presença pastoral neste e nos demais municípios de nossa vasta Diocese: fazedor de pontes, sinal e promotor de unidade e comunhão. Posso, com convicção, dizer-lhes hoje que desde a nomeação para bispo de Juazeiro meu coração sentiu-se vinculado a esta cidade. Por ocasião da minha ordenação episcopal afirmava que “em breve período de tempo já poderia atrever-me a adaptar a bela e renomada canção de Jorge de Altinho:

         “Petrolina, Juazeiro. Juazeiro, Petrolina.
Todas as duas estimo o tempo inteiro.
Eu gosto de Petrolina, mas ADORO Juazeiro”

Muito obrigado!

Dom Beto Breis
Bispo da Diocese de Juazeiro/BA




[1] 2Cor 8,9
[2] Cf. Lucas 6,20
[3] Discurso inaugural da Conferência do Episcopado latino-americano, Puebla, México, 28/1/79,
[4] Evangelii Gaudium, 205


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4 de dez. de 2017

BISPOS DA BACIA DO SÃO FRANCISCO FAZEM NOTA EM DEFESA DO VELHO CHICO


CARTA DA LAPA
Primeiro Encontro dos bispos da Bacia do Rio São Francisco


“Nas margens da torrente, de um lado e de outro, haverá toda espécie de árvores com frutos comestíveis, cujas folhas e frutos não se esgotarão. Essas árvores produzirão novos frutos de mês em mês, porque a água da torrente provém do santuário. Por isso, os frutos servirão de alimentos e as folhas de remédio” (Ez 47,12).
À luz do Evangelho, em comunhão com o Papa Francisco e inspirados pela carta encíclica “Laudato Sí”, nós, bispos da bacia do Rio São Francisco, representando onze das dezesseis dioceses, diante do processo de morte em que este Rio se encontra e das consequências que isto representa para a população que dele depende, assumimos de forma colegiada a defesa do Velho Chico, de seus afluentes e do povo que habita sua bacia.
Como pastores a serviço do rebanho que nos foi confiado, constatamos, com profunda dor: (a) o sumiço de inúmeras nascentes de pequenos subafluentes e, em consequência, o enfraquecimento dos afluentes que alimentam o São Francisco; (b) o aumento da demanda da água para a irrigação, indústria, consumo humano e outros usos econômicos, sem levar em conta a capacidade real dos rios de ceder água; (c) a destruição gradativa das matas ciliares expondo os rios ao assoreamento cada vez maior; (d) a decadência visual dos rios e da biodiversidade; (e) o aumento visível dos conflitos na disputa pela água em toda a região; (f) empresas sempre fazem prevalecer seus interesses e o Estado acaba por ser legitimador de um modelo predatório de desenvolvimento.
Tudo isso vem gerando a destruição lenta e cruel da biodiversidade do Velho Chico e, consequentemente, sua morte gradativa.
Diante dessa triste realidade, enquanto bispos da bacia do Rio São Francisco e pastores do rebanho que nos foi confiado, propomos:
1.    Sermos uma “Igreja em Saída”: Ir ao encontro do povo e, como pastores, convocar os cristãos e as pessoas sensíveis à causa, para juntos assumirmos o grande desafio de salvar o rio da morte e garantir a vida humana, da fauna e da flora que dele dependem;
2.    Sermos uma “Igreja Missionária”: Realizar visitas às nossas comunidades, missões, peregrinações, romarias e estabelecer um diálogo aberto com as pessoas para que entendam e assumam, à luz da fé, o cuidado com a “Casa Comum”, particularmente, a defesa do nosso Rio;
3.    Sermos uma “Igreja Profética”: Elaborar subsídios educativos sobre meio-ambiente e o modo de preservá-lo. Utilizar os meios de comunicação, rádios, periódicos diocesanos para levar ao maior número de pessoas a boa nova da preservação da vida;
4.    Sermos uma “Igreja Solidária”: Reforçar as iniciativas populares de recomposição florestal, recuperação de nascentes, revitalização de afluentes; incentivar a ética da responsabilidade socioambiental capaz de gerar um modo de vida sustentável de convivência com a caatinga, o cerrado e a mata atlântica; defender políticas públicas para implementação do saneamento básico, apoio à agricultura familiar, manutenção de áreas preservadas, a exemplo dos territórios das comunidades tradicionais de fundo e fecho de pasto, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, etc.
5.    Finalmente, declaramos nossa posição em defesa do “Repouso Sabático” para os nossos biomas a fim de que possam se reconstituir. Particularmente, uma moratória para o Cerrado, por um período de dez anos. Durante esse período não seria permitido nenhum projeto que desmate mais ainda o Cerrado, a Caatinga e a Mata Atlântica, biomas que alimentam o Rio São Francisco e dele também se alimentam.
6.    Nesse sentido chamamos as autoridades federais, os governadores, prefeitos, deputados, senadores, o Ministério Público, para que assumam sua responsabilidade constitucional na defesa do Velho Chico e do seu povo.
Que São Francisco, padroeiro da Ecologia e do Rio que traz o seu nome, nos inspire a cuidar da Criação. Que o Bom Jesus da Lapa, de cujo Santuário provém a água da torrente, abençoe e dê vida ao nosso Velho Chico e ao povo do qual ele é pai e mãe.
Bom Jesus da Lapa, 1º Domingo do Advento de 2017.


Bispos Participantes

Dom José Moreira da Silva – Bispo de Januária (MG)
Dom José Roberto Silva Carvalho – Bispo de Caetité (BA)
Dom João Santos Cardoso – Bispo de Bom Jesus da Lapa (BA) 
Dom Josafá Menezes da Silva – Bispo de Barreiras (BA)
Dom Luiz Flávio Cappio, OFM – Bispo de Barra (BA) 
Dom Tommaso Cascianelli, CP – Bispo de Irecê (BA)
Dom Carlos Alberto Breis Pereira, OFM – Bispo de Juazeiro (BA) 
Monsenhor Malan Carvalho – Administrador Diocesano de Petrolina (PE) 
Dom Gabriele Marchesi – Bispo de Floresta (PE)
Dom Guido Zendron – Bispo de Paulo Afonso (BA)
Monsenhor Vitor Agnaldo de Menezes – Bispo eleito de Própria (SE)
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